quarta-feira, 16 de julho de 2014

ERVA MATE E A 2ª. CARIJADA DA UFFS.

erva-mate artesanal é produzida por estudantes de Agronomia do Campus Cerro Largo, em II Carijada 

  site:UFFS

Mais do que produto de exportação para fins econômicos e elemento da tradição dos habitantes do sul da América Latina, a erva-mate já era um componente essencial na cultura Guarani muito antes da chegada dos colonizadores europeus. “Era usada para rituais espiritualistas e o grupo também utilizava para cura, devido as suas propriedades”, explica o griô Emílio Corrêa, de São Miguel das Missões, que é mestre na produção de erva-mate artesanal para chimarrão. As pesquisas atuais confirmam essa sabedoria dos Guarani, reiterando a presença de alcaloides, como a cafeína, vitaminas A, B, C e E, sais minerais, proteínas, glicídios, lipídios, entre outros compostos.



Para relembrar a costura histórica que a erva-mate perpassa até chegar às mãos dos colonizadores e fazer parte do cotidiano de argentinos, paraguaios e brasileiros da região Sul, os estudantes da 1ª e 3ª fase do curso de Agronomia da UFFS - Campus Cerro Largo prepararam a II Carijada, nesta terça-feira (15) e quarta-feira (16), no CTG do campus.


Corrêa, convidado do evento, explicou para os alunos o processo de produção da erva, desde o momento da colheita da planta, passando pela escolha do tipo de lenha até a hora em que ela vai para o pilão para ser moída. “O pé da erva-mate tem que ter de quatro anos em diante, para então ser cortada. A lenha (utilizada para defumar a folha) é do tipo que dá para tirar a casca e fazer um chá, então essa propriedade vai ficar na erva. Pode ser utilizada a pitangueira, cabriúva ou angico. Mas deve ser colocado uns 30% de lenha seca e o restante tem que ser verde. A altura do carijo tem que ser, no máximo, um metro e dez centímetros. Se colocar em 90 cm e subir 10, por exemplo, já gasta o dobro de lenha para secar a erva”, conta.


Esse saber popular, segundo a organizadora do evento, professora Bedati Finokiet, é importante porque vai além do conhecimento estritamente científico e tira os estudantes do espaço acadêmico. “É valioso poder trazer essas pessoas que têm outros saberes para dentro da Universidade. Eles têm essa sabedoria, esse conhecimento que vem da oralidade, dos seus antepassados e é bom para os acadêmicos valorizarem isso, pois, nesse momento, acontece uma educação patrimonial. Além de discutir os textos e trabalhar a questão teórica, eles estão vivenciando e experimentando esse momento, que vão levar para a vida toda”, reflete Bedati.


O estudante da 1ª fase, Nestor Bremm, concorda com a professora: “Vou lembrar disso, pois vivenciei o processo. Meu avô e bisavô faziam a erva-mate, mas isso foi se perdendo e eu não tinha a menor ideia de como era feita. O projeto resgata essa identidade dos primeiros imigrantes, pois muitos dos avós de meus colegas também faziam erva-mate, mas poucos de nós sabíamos como. Mais tarde, como agrônomo, poderei até incentivar essas atividades entre os pequenos agricultores”, afirma.


Neste ano o grupo produziu cerca de 25 kg de erva, que foi distribuída entre eles. Para cuidar do carijo, os estudantes tiveram que dormir no local, pois a erva-mate deve ficar de 12 a 14 horas defumando. Por isso, na noite de terça-feira (15), o Grupo de Música Nativista Missioneira Universitária da UFFS participou da Carijada apresentando suas performances artísticas. O projeto recebeu também o apoio da Prefeitura Municipal de Cerro Largo.



O que é Carijo?

O carijo é a estrutura em forma de esteira, feita geralmente de bambu, onde os galhos (compostos em maços chamados de 'macacos') são postos a fim de que o calor das brasas seque as folhas. Durante esse processo, alguém deve estar sempre presente para que as brasas não se transformem em fogo, queimando assim as folhas.


Segundo Corrêa, o carijo também é invenção dos guaranis, pois quando ficavam muito tempo no mato, para realizar suas caças, montavam a estrutura para secar os maços, diferente de quando estavam na aldeia. “Cada um tinha seu fogo de chão, pois uma casa de guarani é fogo de chão noite e dia, aí eles penduravam o maço. Não faziam essa esteira grande”, acrescenta.  
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