erva-mate artesanal é produzida por estudantes de Agronomia do Campus Cerro Largo, em II Carijada
site:UFFS
Mais do que produto de exportação para fins econômicos e elemento da tradição dos habitantes do sul da América Latina, a erva-mate já era um componente essencial na cultura Guarani muito antes da chegada dos colonizadores europeus. “Era usada para rituais espiritualistas e o grupo também utilizava para cura, devido as suas propriedades”, explica o griô Emílio Corrêa, de São Miguel das Missões, que é mestre na produção de erva-mate artesanal para chimarrão. As pesquisas atuais confirmam essa sabedoria dos Guarani, reiterando a presença de alcaloides, como a cafeína, vitaminas A, B, C e E, sais minerais, proteínas, glicídios, lipídios, entre outros compostos.
Para
relembrar a costura histórica que a erva-mate perpassa até chegar às
mãos dos colonizadores e fazer parte do cotidiano de argentinos,
paraguaios e brasileiros da região Sul, os estudantes da 1ª e 3ª fase do
curso de Agronomia da UFFS - Campus Cerro Largo prepararam a II
Carijada, nesta terça-feira (15) e quarta-feira (16), no CTG do campus.
Corrêa,
convidado do evento, explicou para os alunos o processo de produção da
erva, desde o momento da colheita da planta, passando pela escolha do
tipo de lenha até a hora em que ela vai para o pilão para ser moída. “O
pé da erva-mate tem que ter de quatro anos em diante, para então ser
cortada. A lenha (utilizada para defumar a folha) é do tipo que dá para
tirar a casca e fazer um chá, então essa propriedade vai ficar na erva.
Pode ser utilizada a pitangueira, cabriúva ou angico. Mas deve ser
colocado uns 30% de lenha seca e o restante tem que ser verde. A altura
do carijo tem que ser, no máximo, um metro e dez centímetros. Se colocar
em 90 cm e subir 10, por exemplo, já gasta o dobro de lenha para secar a
erva”, conta.
Esse saber popular,
segundo a organizadora do evento, professora Bedati Finokiet, é
importante porque vai além do conhecimento estritamente científico e
tira os estudantes do espaço acadêmico. “É valioso poder trazer essas
pessoas que têm outros saberes para dentro da Universidade. Eles têm
essa sabedoria, esse conhecimento que vem da oralidade, dos seus
antepassados e é bom para os acadêmicos valorizarem isso, pois, nesse
momento, acontece uma educação patrimonial. Além de discutir os textos e
trabalhar a questão teórica, eles estão vivenciando e experimentando
esse momento, que vão levar para a vida toda”, reflete Bedati.
O
estudante da 1ª fase, Nestor Bremm, concorda com a professora: “Vou
lembrar disso, pois vivenciei o processo. Meu avô e bisavô faziam a
erva-mate, mas isso foi se perdendo e eu não tinha a menor ideia de como
era feita. O projeto resgata essa identidade dos primeiros imigrantes,
pois muitos dos avós de meus colegas também faziam erva-mate, mas poucos
de nós sabíamos como. Mais tarde, como agrônomo, poderei até incentivar
essas atividades entre os pequenos agricultores”, afirma.
Neste
ano o grupo produziu cerca de 25 kg de erva, que foi distribuída entre
eles. Para cuidar do carijo, os estudantes tiveram que dormir no local,
pois a erva-mate deve ficar de 12 a 14 horas defumando. Por isso, na
noite de terça-feira (15), o Grupo de Música Nativista Missioneira
Universitária da UFFS participou da Carijada apresentando suas
performances artísticas. O projeto recebeu também o apoio da Prefeitura
Municipal de Cerro Largo.
O que é Carijo?
O
carijo é a estrutura em forma de esteira, feita geralmente de bambu,
onde os galhos (compostos em maços chamados de 'macacos') são postos a
fim de que o calor das brasas seque as folhas. Durante esse processo,
alguém deve estar sempre presente para que as brasas não se transformem
em fogo, queimando assim as folhas.
Segundo
Corrêa, o carijo também é invenção dos guaranis, pois quando ficavam
muito tempo no mato, para realizar suas caças, montavam a estrutura para
secar os maços, diferente de quando estavam na aldeia. “Cada um tinha
seu fogo de chão, pois uma casa de guarani é fogo de chão noite e dia,
aí eles penduravam o maço. Não faziam essa esteira grande”, acrescenta.
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