Sou precoce.
Escolho o Homem de Ano em maio.
Sei que nada mudará nos próximos meses.
Nada mudou nos últimos anos. O Homem 2015 é Eduardo Cunha. O presidente da
Câmara dos Deputados destaca-se pelo pior. Ninguém é melhor do que ele no pior.
Nem Renan Calheiros. Ele tem garantido a aprovação das medidas mais retrógradas
dos últimos tempos. Põe em votação tudo que possa ser ruim para o Brasil.
Segura tudo o que tenha algum valor progressista. É um monstro. Surra o governo
petista sete dias por semana. Humilha a presidente Dilma Rousseff sem dó nem
piedade. Faz o PT rastejar quando bem entende. Ameaça retalhar o Senado do
companheiro de partido Renan Calheiros.
Não, não é retaliar. Vingança e troco
não lhe bastam.
É recortar mesmo, fragmentar,
despedaçar, picotar.
Eduardo Cunha elegeu-se presidente da
Câmara impondo ao governo uma derrota vergonhosa. Depois disso, fez aprovar a
liberação impositiva das chamadas emendas parlamentares, um grana alta que os
deputados recebem para comprar votos nos seus Estados sob a forma de benefícios
aos seus representados. Em seguida, fez um alvoroço com a possibilidade de
redução da maioridade penal. Não satisfeito com tanto barulho, investiu contra
a legislação trabalhista. Bancou a aprovação do projeto de terceirização. Na
sequência, vem botando o governo federal de joelhos em grão de milho para fazer
aprovar as medidas provisórias do pacote fiscal do ministro Joaquim Levy, que
surrupiam outros direitos trabalhistas.
O homem não perde viagem.
Acossado pela operação Lava-Jato,
suspeito de ter recebido propina e de ter feito tramitar um plano para
intimidar maus pagadores dessas quantias subterrâneas cada vez mais visíveis, o
homem de ano não se perturba: ataca o Procurador-geral da República, reduz o
problema de corrupção a uma questão pessoal, critica o STF, acusa o governo de
manipular o Ministério Público para investigá-lo, chuta o balde, ameaça com
CPIs, insulta quem encontra pelo caminho, toma vaia por onde passa, mas se
mantém ereto como um poste podre. Quem dará o empurrão que o derrubará para
sempre? Sabe-se lá. Os cupins.
O homem toma providências. Joga pelo
regulamento.
Antes, toma o cuidado de mudar o regulamento
para melhor se defender. Manchete da Folha de S. Paulo desta semana entregava
tudo: “Cunha muda norma para reforçar defesa nas investigações da Lava Jato”.
Que homem precavido!
Cobra o escanteio e faz o gol de
cabeça. Não terceiriza. Faz.
Dizem que ele é muito inteligente.
Quem fala isso costuma completar: “Uma
inteligência do mal”. Que medo! Cunha conseguiu, na semana passada, fixar uma
nova regra pela qual deputados podem autorizar assessores a usarem senhas
privativas dos eleitos, antes pessoais e intransferíveis, para protocolo de
requerimentos e outros procedimentos. Eduardo Cunha é ardiloso: a alteração tem
o objetivo de indicar que isso era tão comum, tendo sido feito em seu nome no
passado, que foi melhor formalizar.
Homem do ano, Eduardo Cunha quer se presidente
da República em 2018. Só os cupins podem nos salvar. O malvado Eduardo Cunha só
tem um inimigo pior do que ele: o governo. Cunha botou em votação o fim do
Fator Previdenciário, criado no governo FHC, que escorcha aposentados. O PT é
contra e quer vetar. É uma nova forma de se refundar virando Partido dos
Trovadores.
Só Eduardo Cunha, o homem do ano, faz
pior.
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