Campus Cerro Largo: Bioma Pampa está desprotegido em áreas do Rio Grande do Sul
Ele
representa 60% da área total do Rio Grande do Sul e, mesmo fazendo
parte de 2% do total do território nacional, é um dos locais onde existe
o maior número de espécies desprotegidas no Brasil. Esse é o bioma
Pampa, presente no Uruguai e na Argentina, além do RS. O dia 17 de
dezembro foi o dia instituído para se lançar um olhar demorado sobre o
bioma que só foi reconhecido oficialmente pelo IBGE em 2004, segundo o
grupo de pesquisa Rede Campos Sulinos.
De acordo com estudos da
professora da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus
Cerro Largo, Daniela Oliveira de Lima, o Pampa é um bioma negligenciado
em termos de atenção pública, política e acadêmica. “As pessoas não
olham ele como um ambiente natural, porque ele é muito usado para a
criação de gado. Porém é um sistema natural, e todo o ecossistema exerce
o que chamamos de serviços ambientais. No caso do Pampa, tem um grande
acúmulo de carbono, porém não enxergamos essa biomassa porque é, em
grande parte, subterrânea. Então, o Pampa é importante para absorver
carbono, para a manutenção das espécies nativas, nos recursos hídricos,
na qualidade do solo e do clima”, argumenta Daniela.
A professora, que é
doutora em Ecologia e iniciou seus estudos sobre o Pampa em 2010, afirma
que pouco mais de 3% do bioma é protegido no RS por unidades de
conservação, sendo apenas 1% proteção integral, o tipo mais restritivo
de unidade de conservação. A professora também afirmou que o Pampa é o
segundo bioma mais alterado do país. “Perde apenas para a Mata
Atlântica, que é um dos biomas mais alterados do mundo”, destaca. A
maior reserva desse bioma do estado é a Estação Ecológica do Taim,
abrangendo o município de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar e tem
cerca de 33 mil hectares. “Pode parecer muito, mas é apenas um pontinho
no mapa, e as espécies nativas precisam de áreas grandes, pois elas
precisam caçar. As outras unidades de conservação no RS são menores
ainda, de mil ou dois mil hectares. É preciso um espaço onde uma
população inteira possa sobreviver”, diz Daniela.
Entre os principais
fatores que degradam esse ambiente estão a pecuária intensiva, a
agricultura e a caça. No Pampa, segundo Daniela, o grande problema é o
sobrepastoreio, que pisoteia o campo. “Várias áreas têm uma densidade
muito grande de gado e, com isso, o solo começa a ter erosão, perde a
qualidade, além de poluir a água em razão dos dejetos”, explica. Muitos
estudos apontam que a maior produtividade do gado não significa ter uma
grande quantidade de animais, porque a necessidade de alimento, também
em quantidade intensa, inibe o crescimento da vegetação. “Se houver
menos vacas, por exemplo, por hectare, elas irão engordar com maior
rapidez. Então a pouca quantidade de animal aumentaria a produtividade
desse gado e manteria os ecossistemas naturais”, garante a professora,
que defende a pecuária extensiva. Quanto à agricultura, ela destaca a
soja, o trigo e também o rápido avanço da produção de árvores
(silvicultura) como o eucalipto e o pinus. “A região Noroeste do estado é
a mais alterada do Pampa, pois foi onde ocorreu a maior transformação
do bioma para a agricultura. É nas proximidades de Bossoroca onde temos
os últimos remanescentes desse tipo de vegetação nessa região”, afirma.
Mamíferos em extinção
No bioma Pampa, cerca de
25% dos animais mamíferos estão em extinção e muitas espécies já
desapareceram em, pelo menos, 50% de sua área de distribuição. A onça
pintada, onça parda, jaguatirica, pequenos gatos do mato e cerca de
cinco espécies de ratos, que vivem no subsolo, como o tuco-tuco, estão
todos ameaçados, de acordo com Daniela. Entre os já extintos, podem-se
destacar os porcos nativos. “Os porcos restantes, pois já não havia o
habitat ideal para sua sobrevivência, foram todos caçados. Aqui há um
problema muito sério de caça”, finaliza.
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