sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

BIOMA PAMPA ESTÁ DESPROTEGIDO EM ÁREAS DO RS.

Campus Cerro Largo: Bioma Pampa está desprotegido em áreas do Rio Grande do Sul

bioma_pampa_daniela_oliveira_limaEle representa 60% da área total do Rio Grande do Sul e, mesmo fazendo parte de 2% do total do território nacional, é um dos locais onde existe o maior número de espécies desprotegidas no Brasil. Esse é o bioma Pampa, presente no Uruguai e na Argentina, além do RS. O dia 17 de dezembro foi o dia instituído para se lançar um olhar demorado sobre o bioma que só foi reconhecido oficialmente pelo IBGE em 2004, segundo o grupo de pesquisa Rede Campos Sulinos.

De acordo com estudos da professora da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Cerro Largo, Daniela Oliveira de Lima, o Pampa é um bioma negligenciado em termos de atenção pública, política e acadêmica. “As pessoas não olham ele como um ambiente natural, porque ele é muito usado para a criação de gado. Porém é um sistema natural, e todo o ecossistema exerce o que chamamos de serviços ambientais. No caso do Pampa, tem um grande acúmulo de carbono, porém não enxergamos essa biomassa porque é, em grande parte, subterrânea. Então, o Pampa é importante para absorver carbono, para a manutenção das espécies nativas, nos recursos hídricos, na qualidade do solo e do clima”, argumenta Daniela.
A professora, que é doutora em Ecologia e iniciou seus estudos sobre o Pampa em 2010, afirma que pouco mais de 3% do bioma é protegido no RS por unidades de conservação, sendo apenas 1% proteção integral, o tipo mais restritivo de unidade de conservação. A professora também afirmou que o Pampa é o segundo bioma mais alterado do país. “Perde apenas para a Mata Atlântica, que é um dos biomas mais alterados do mundo”, destaca. A maior reserva desse bioma do estado é a Estação Ecológica do Taim, abrangendo o município de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar e tem cerca de 33 mil hectares. “Pode parecer muito, mas é apenas um pontinho no mapa, e as espécies nativas precisam de áreas grandes, pois elas precisam caçar. As outras unidades de conservação no RS são menores ainda, de mil ou dois mil hectares. É preciso um espaço onde uma população inteira possa sobreviver”, diz Daniela.
Entre os principais fatores que degradam esse ambiente estão a pecuária intensiva, a agricultura e a caça. No Pampa, segundo Daniela, o grande problema é o sobrepastoreio, que pisoteia o campo. “Várias áreas têm uma densidade muito grande de gado e, com isso, o solo começa a ter erosão, perde a qualidade, além de poluir a água em razão dos dejetos”, explica. Muitos estudos apontam que a maior produtividade do gado não significa ter uma grande quantidade de animais, porque a necessidade de alimento, também em quantidade intensa, inibe o crescimento da vegetação. “Se houver menos vacas, por exemplo, por hectare, elas irão engordar com maior rapidez. Então a pouca quantidade de animal aumentaria a produtividade desse gado e manteria os ecossistemas naturais”, garante a professora, que defende a pecuária extensiva. Quanto à agricultura, ela destaca a soja, o trigo e também o rápido avanço da produção de árvores (silvicultura) como o eucalipto e o pinus. “A região Noroeste do estado é a mais alterada do Pampa, pois foi onde ocorreu a maior transformação do bioma para a agricultura. É nas proximidades de Bossoroca onde temos os últimos remanescentes desse tipo de vegetação nessa região”, afirma.
Mamíferos em extinção
No bioma Pampa, cerca de 25% dos animais mamíferos estão em extinção e muitas espécies já desapareceram em, pelo menos, 50% de sua área de distribuição. A onça pintada, onça parda, jaguatirica, pequenos gatos do mato e cerca de cinco espécies de ratos, que vivem no subsolo, como o tuco-tuco, estão todos ameaçados, de acordo com Daniela. Entre os já extintos, podem-se destacar os porcos nativos. “Os porcos restantes, pois já não havia o habitat ideal para sua sobrevivência, foram todos caçados. Aqui há um problema muito sério de caça”, finaliza.

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