Inadimplência atinge mais da metade
das empresas no Brasil
CLAUDIA ROLLI DE SÃO PAULO
O Brasil registrou 4 milhões de empresas
inadimplentes, mais da metade das 7,9 milhões de empresas em operação, segundo
critérios da Serasa Experian (é considerada em operação a empresa que teve o
CNPJ consultado no último ano e que consta em atividade na Receita).
Juntas, as empresas
inadimplentes somam dívidas de R$ 92 bilhões, segundo dados de agosto da
Serasa.
O volume é o maior
desde julho do ano passado, quando a inadimplência no setor produtivo chegou a
3,5 milhões de devedoras, com R$ 80 bilhões em débitos.
São dívidas em média
com 30 dias de atraso e que constam no cadastro da Serasa Experian, dona do
maior banco de dados de crédito do país.
As inadimplentes
devem a bancos, deram cheques sem fundo, tiveram títulos protestados ou
enfrentam ações judiciais porque não pagaram a fornecedores ou funcionários. Há
casos ainda de empresas que entraram em recuperação judicial (processo em que
pede prazo para negociar com credores).
Com o aumento dos
juros, mais restrições para obter crédito e queda nas vendas, essas empresas
enfrentam mais dificuldade para manter as contas em dia.
"O quadro de
recessão na economia afeta diretamente o ritmo de negócios e a geração de caixa
das empresas", diz Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa.
INADIMPLÊNCIA CRESCENTE .
Número de empresas
devedoras cresce neste ano.
Do total de empresa
inadimplentes, 46% estão no comércio (varejo de bebidas, vestuário, veículos,
eletrônicos e outros); 44% no setor de serviços (bares, restaurantes, turismo,
salões de beleza) e 10% na indústria.
Nove em cada dez
inadimplentes são de micro e pequeno portes. Metade delas está na região
Sudeste.
EM
ALTA
Economistas e
empresários acreditam que a tendência é de a inadimplência continuar subindo
-entre empresas e entre as pessoas físicas.
"Com a queda nas
vendas e os juros nas alturas não há mudança nesse cenário [de
endividamento]", diz Marcel Solimeo, da Associação Comercial de São Paulo.
No setor industrial,
a situação não é diferente. "As empresas estão enfrentando mais
dificuldade nas vendas de prazos mais longos, em que existe mais necessidade de
capital de giro", diz José Ricardo Roriz Coelho, diretor do departamento
de competitividade da Fiesp.
"E também para
discutir alternativas de refinanciamento de dívidas e tomar novos créditos pela
falta de perspectivas de melhora do cenário", acrescenta o executivo.
Patrícia Krause,
economista-chefe da Coface (empresa especializada em seguro de crédito) para a
América Latina, destaca ainda o forte impacto da variação cambial,
especialmente no setor industrial, e da elevação da tarifa de energia como
fatores que contribuem para agravar a situação do setor. "Estão cada vez
mais recorrentes os pedidos de recuperação judicial."
"A condição de
capital próprio também vem se deteriorando nos anos recentes o que tem limitado
opções e forçado as empresas a deixarem de honrar seus compromissos, elevando a
inadimplência", avalia Nicolas Tinga, economista-chefe da Acrefi,
associação que reúne as instituições de crédito e financeiras, ao lembrar que o
planejamento financeiro das empresas tem sido mais afetado neste ano.
"Uma reversão
desse quadro depende antes que tudo de sinalização positiva na economia, algo
que ainda está em perspectiva insuficiente para mudar as expectativas e
futuramente trazer de volta a confiança dos agentes econômicos", completa
o economista.
PESSOA
FÍSICA
A Serasa Experian
também registrou que 3,1 milhões de consumidores entraram na lista de
inadimplentes de dezembro de 2014 a agosto deste ano.
Existem no Brasil
57,2 milhões de pessoas endividadas com bancos (financiamento de carros,
imóveis), com o varejo e com contas de consumo (luz, água, telefone) em atraso.
Juntos esses consumidores devem R$ 246 bilhões.
Esse conjunto de
endividados representa 39% do total da população adulta do país - ou seja, com
18 anos ou mais. "Equivale dizer que a cada dez consumidores adultos quatro
estão inadimplentes no Brasil;", ressalta Rabi.
O desemprego e a
inflação elevada são os principais fatores para explicar o aumento do
endividamento entre as pessoas físicas.
"Os reajustes
salarias, menores neste período de crise, também complicam a renda do
trabalhador. Com menos dinheiro no bolso, fica mais difícil para o consumidor
quitar as dívidas", afirma Solimeo, economista da associação
comercial.