Crise leva 111 categorias a fechar acordo com
redução de salários 21.1o.15
Boa parte dos trabalhadores com
negociações salariais neste segundo semestre vai conseguir, no máximo, repor o
índice de inflação, em alguns casos parcelado. Aumentos reais, acima da
inflação, que deram o tom às negociações nos últimos anos serão concedidos a um
número menor da população assalariada. Além disso, cresce o número de
funcionários com carteira assinada que aceita reduzir os salários para tentar
escapar do desemprego.
Neste ano, até
agosto, já ocorreram 111 acordos coletivos com redução nominal dos salários,
quase metade deles no Estado de São Paulo. Em 2014 foram apenas quatro
registros de negociações com corte no holerite, segundo levantamento da
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), com base em dados do
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
No ano passado, os
trabalhadores conquistaram aumento real médio acima de 1% nas negociações
realizadas em todos os meses. Neste ano, com exceção de janeiro, os reajustes
estão abaixo de 1% ou se limitam a repor a inflação. Em julho, o resultado foi
negativo em 0,3%. Os dados levam em conta todos os acordos salariais firmados
no País.
As negociações
salariais nestes últimos meses serão muito difíceis, diz o coordenador da
pesquisa da Fipe e responsável pelo site salários.org.br, Hélio Zylberstajn.
"De um lado, tem a inflação acumulada de quase 10% e uma baita recessão e,
de outro, empresas em dificuldade de reajustar a folha de pagamentos, pois não
vendem seus produtos."
Poder de barganha
Mesmo que o segundo
semestre seja marcado por negociações de categorias com maior poder de
barganha, como metalúrgicos, químicos, bancários e petroleiros, o embate será
complicado, admite José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações
sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese).
De 25 negociações
analisadas pelo Dieese entre julho e agosto, 90% conseguiram apenas zerar a
inflação. Oliveira diz que os resultados dos acordos do segundo semestre devem
ser similares aos do primeiro, com conquista de aumento real por menos de 70%
dos trabalhadores.
O levantamento do
Dieese tem amostra menor do que a da Fipe. No primeiro semestre, segundo esse
levantamento, 68,5% dos acordos ficaram acima do INPC, e 14,6% abaixo do
índice.
Foi o pior
resultado para os trabalhadores desde 2008, quando teve início uma nova
metodologia da pesquisa. No ano passado, 93% das categorias tiveram aumento
real.
Além disso, o
reajuste real médio foi de 0,51%, também o mais baixo desde 2008. No ano
passado, o ganho dos trabalhadores no primeiro semestre foi mais que o dobro
(1,46%) e no segundo de 1,16%.
"O cenário
desse segundo semestre é de dificuldade pois, entre os vários problemas, a
dimensão da crise política contamina o cenário econômico", diz Oliveira.
As informações são
do jornal O Estado de S.
Paulo.
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