Atestado de óbito do PT, do PP e de outros
Postado por Juremir em 24 de março de 2015 - www.correiodopovo.com
O PT acabou. Surgiu como uma utopia no final da
ditadura militar. Quando o muro de Berlim caiu, levando com ele o socialismo totalitário
do leste europeu, o PT continuou sendo, para os seus militantes, um sonho de
socialismo democrático ou até mesmo de volta dos regimes populares
autoritários. No surgimento do PT, eu tinha 18 anos e estava mais interessado
no anarquismo e nas minhas colegas de faculdade. Quando o muro desabou, eu
estava ainda mais interessado no anarquismo e em encontrar um jeito de conhecer
Berlim, o que aconteceu com uma bolsa do Instituto Goethe. Tive muitas brigas
com petistas, que ajudaram a pedir e conseguir minha cabeça uma vez. O meu
horror ao stalinismo me fez desconfiar do PT durante muito anos. O mensalão só
me fez ficar com o pé ainda mais atrás. Fui a primeiro a escrever Lulla. Aí
percebi que estava jogando para a direita.
O bolsa-família, as cotas e O ProUni, entre outras
iniciativas de inclusão da plebe, especialmente a não branca, ganharam o meu
aplauso. Veio o petrolão. A lógica petista é algo como “roubamos como todos,
mas fazemos algo pelos menos favorecidos”. Jamais a legitimei. Hoje, o PT está reduzido
ao “apesar de”. Diante da falência ética do partido e do enterro de todos os
seus ideais, com senadores históricos debandando – Marta Suplicy vai para o PSB
e Paulo Paim ainda não se decidiu –, só resta ao petismo dizer que apesar de
tudo fez mais do que todos pelos que tem menos. A teoria do “apesar de” é um
atestado de óbito, uma confissão de culpa, um recibo passado a todos. O PT já
era. Pode sobreviver como um simulacro, uma sombra, um fantasma, um rastro do
que foi, mas nunca como o original.
Para se reerguer, terá de romper com a teoria do
“apesar de”, inventar um ritual de refundação, talvez até mudando de nome para
algo como PTR – Partidos dos Trabalhadores Refundado –, e romper com a
mitologia que faz de José Dirceu e outros heróis sacrificados pela justiça e
pelo aparato repressivo burgueses em luta pela causa proletária. A teoria do
“apesar de” é complementada com a tese do “não tem outro jeito”: para ocupar o
poder e transferir um pouco de renda para os mais pobre seria preciso jogar o jogo,
dançar conforme a música, aceitar as regras da política. O PT achava que era
mais esperto do que a raposa. Pode continuar no poder por mais algum tempo e
até tentar trazer Lula de volta, mas nunca mais será o mesmo, salvo se aceitar
ser outro e começar tudo de novo jogando ao mar a sua parte podre. Só a ruptura
pode reinventá-lo. É racha ou implode.
O que diz o petismo para se defender: que para
chegar o poder é preciso muito dinheiro. De onde tirá-lo se o financiamento das
campanhas é privado e empresas não gastam se não for para ter retorno? Como ter
maioria para governar sem fazer coalizões esdrúxulas e pagas? O atestado de
óbito do PT é também o registro em cartório da morte das ilusões na política
limpa. Fica assim: empresas podem até pagar a conta de partidos conservadores
para que conservem seus interesses, mas quem pagaria a conta de um campanha
contra esses interesses? O “apesar de” tentar voltar pela porta dos fundos.
Deu.
Mas o PT não morre sozinho.
Leva o PP com ele. O atestado de óbito do PP foi
lavrado pelo deputado gaúcho Jerônimo Goergen. Depois de aparecer na lista
Janot, Goergen declarou o fim do PP. Ex-partido da ditadura, o PP acostumou-se
a viver como assombração. Nunca se importou em jogar Maluf ao mar. Saberá
continuar como resquício de si mesmo. Se precisar, troca mais uma vez de nome.
Pela troca de nomes os mortos conquistam a vida
eterna.
A senadora gaúcha Ana Amélia Lemos já pensa em sair
do PP. O ar ficou insuportável.
O PSDB já nasceu morto-vivo. Nega a mulher de
César: acha que pode ser honesto sem parecer.
A política brasileira é um enorme cemitério de
partidos.
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