Postado por Juremir em 21 de março de 2015 - Uncategorized
O Brasil parece não ter nascido para a democracia.
Assim como não se acostuma com a fórmula de pontos
corridos no futebol. O brasileiro acha isso tudo muito chato. O Brasil gosta de
mata-mata. Democracia e pontos corridos dão pouca emoção. É um sistema
enfadonho em que o ganhador ganha e acabou. Não faz sentido. Não tem atalho. O
brasileiro adora poder matar quem o matou. É o princípio da ressurreição ou da
última chance. O incompetente precisa ter uma possibilidade de virar o jogo
mesmo que tenha sido disparado o pior.
O derrotado nas urnas sempre quer um terceiro turno
ou um impeachment providencial mesmo que não existam razões jurídicas para
tanto. No futebol, o oitavo colocado, digamos, com 20 pontos a menos, quer ter
o direito de eliminar o primeiro em dois bons jogos lotéricos.
A democracia é tediosa. O ganhador fica quatro anos
no poder. O perdedor precisa esperar. Depois de mais de duas décadas de
ditadura, elegemos um presidente, o bizarro Fernando Collor. Tratamos de
derrubá-lo para encurtar a enormidade do seu mandato. Itamar Franco assumiu
como tampão. FHC veio depois e comprou a emenda da sua reeleição. Essa
providência serviu para sacudir o tédio democrático. A cada mandato é preciso
algum tipo de golpe, branco, preto, seja o que for. Lula empalmou o poder e
podia ter caído com o mensalão. A oposição dormiu no ponto e deixou a coisa
rolar sem graça até o fim. Dilma foi inventada por Lula e já está no segundo
mandato. Ninguém aguenta mais tanta democracia.
O PSDB, furioso por ter perdido nas urnas, dá o
tapa e esconde a mão: quer o impeachment sem confessar. Nem se importa com o
fato de que o poder ficaria com o eterno PMDB.
Democracia e pontos corridos não combinam com o
Brasil. É como carnaval sem álcool. Fica difícil acontecer alguma coisa mais
excitante. O brasileiro é, antes de tudo, um golpista. Só goza no golpe. Só tem
tesão no atalho. A democracia é broxante. Entre nós tudo se repete como farsa.
Paulistas querem repetir 1932, 1954 e 1964. Ainda estamos na época de Carlos
Lacerda e do combate à ameaça comunista. A frase do momento é novinha: o
petróleo é nosso. Um lado grita genialmente: vai para Cuba. O outro rebate: vai
para Miami. Não por acaso estamos vivendo uma tentativa de golpe disfarçada de
impeachment e uma proposta de volta ao sistema mata-mata. A eleição sem golpe e
os pontos corridos são injustos, pois exageram na justiça.
Não dão espaço para a reviravolta. Matam o
revanchismo.
O golpismo faz do brasileiro um forte. Se está
ruim, aposta no pior. O brasileiro só é democrata quando toma as ruas em defesa
de um golpe apelidado de impeachment. Quando o eleito pode se reeleger para um
segundo mandato, queremos que isso não seja mais possível. Quando não há
reeleição, propomos que isso seja possível. Detestamos repetir fórmula. Salvo a
do caixa dois com dinheiro ilícito. Somos todos iguais no golpismo, no
mata-mata e no caixa dois. Salvo as exceções.
Não fosse a possibilidade do golpe, o brasileiro
não seria democrata.
O golpismo está em nosso DNA. Quando não tem golpe
de Estado, tem golpes de todo tipo contra o erário público.
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