O incômodo olhar estrangeiro
Olhar do outro
O mais poderoso jornal do mundo, o americano The New York Times, não foi na onda da mídia brasileira e afirmou que Dilma Rousseff pode “pagar um preço desproporcionalmente grande por irregularidades administrativas enquanto vários de seus detratores mais ardentes são acusados de crimes mais escandalosos”. Le Figaro, jornal francês mais conservador do que o reacionário Estado de S. Paulo, o que não é pouco, revelou a sua perplexidade: “O que está acontecendo no Brasil no momento é o maior paradoxo: a presidente Dilma Rousseff foi destituída por deputados e senadores que, dois terços deles, estão envolvidos em casos de corrupção em relação aos quais as acusações contra a presidente parecem pecados venais”.
O prestigioso Le Monde registrou que Michel Temer foi citado na Lava Jato (três vezes) e que os acusadores são tão ou mais corrompidos que os acusados. O inglês The Guardianfez um inventário completo das iniquidades brasileiras. Citou erros do governo Dilma, mas foi implacável: “O impeachment de Dilma Rousseff é um dia triste para a democracia e pode ser visto como uma tragédia”. Se pode haver esperança, The Guardian lembra também que o Brasil, a exemplo de outros países latino-americanos, como Argentina e Chile, tem “um longo caminho a percorrer antes de se tornar uma democracia estável”, o que exige “pluralismo e diversidade na mídia”.
Ingleses abusados!
Sem papas na língua (a batata não é inglesa), The Guardian garante que Dilma “foi vítima de seus próprios erros na economia”, mas também de “um processo que está sendo visto como extremamente controverso e hipócrita – para muitos uma forma de ‘golpe suave’ – liderado por políticos acusados de corrupção”. Para o jornal inglês, a crise brasileira “só pode ser compreendida olhando para a história do autoritarismo, da desigualdade social e da exclusão dos pobres por elites que, com exceções, têm sido tradicionalmente hostis a qualquer forma de mudança social”. Recomendação: “O Brasil precisa de profundas reformas estruturais, da agricultura à política e tributação. Atualmente 70% dos impostos são cobrados sobre o consumo, e apenas 30% na propriedade”. A lista de jornais estrangeiros com dúvidas sobre a pertinência do afastamento de Dilma é um catálogo.
O homem que pretende mudar o Brasil assumiu com um ministério formado por machos brancos dominantes. Nenhuma mulher. Nenhum negro. Os seus defensores garantem que isso é normal. Entre os ministros de Michel Temer constam figurinhas repetidas dos governos Lula e Dilma e sete citados na Lava Jato. O notável da equipe é a falta de notáveis salvo notórios plantonistas do poder com Sarney Filho e Romero Jucá. Como sei pouco, tendo aprender lendo jornais do mundo inteiro. Fico surpreso com a diferença de pontos de vista em comparação com a imprensa brasileira. Só posso tirar uma conclusão incontestável: esses gringos são comunistas ou não compreendem o nosso país. Deve ser efeito das caipirinhas sobre a mente dos correspondentes. Yes!
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