O silêncio e a ata do golpe
De repente, não mais de que repente, fez-se um enorme silêncio.
Aécio Neves ficou calado.
A Avenida Paulista não se encheu de gente de verde e amarelo.
Não se ouviu uma panela repicar no Parcão.
O MBL, o Vem pra Rua e o Revoltados Online ficaram em casa.
A mídia falava da salvação do país pelos novos donos do poder.
Silêncio retumbante sobre a ata do golpe, a escritura da trama, o recibo da operação.
Romero Jucá entregou tudo.
Este fragmento da sua conversa gravada com Sérgio Machado será estudado pelos historiadores do futuro como um dos documentos mais insólitos da era do golpe hipermoderno:
JUCÁ – [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.
Na ata do golpe, o golpista nomeia seus parceiros: ministros do STF, comandantes militares…
Silêncio ensurdecedor.
Os golpistas trabalham para implantar um programa neoliberal de reformas.
Que importa se alguns deles são corruptos?
Glenn Greenwald, do site The Intercept e colaborador da CNN no Brasil, anotou no twitter: “Basicamente, se vc é um dos q disse ou acreditou que não há golpe no Brasil, seus argumentos foram destruídos hoje”.
Por Romero Jucá.
Só os ingênuos e os mal-intencionados acreditam na neutralidade do STF e dos militares.
Bernardo Mello Franco, colunista da Folha de S. Paulo, rendeu-se: “O medo do camburão, que deu o tom da conversa, foi o fator decisivo para estilhaçar a aliança parlamentar que sustentava o petismo. Esse medo alçou Michel Temer ao comando do que já se chamou, com elegância, de novo bloco de poder. A gravação revelada pela Folha atesta como os investigados viram no impeachment a ‘solução mais fácil’ para frear a Lava Jato, que ameaçava desmontar todo o sistema partidário”.
O golpe, apelidado de impeachment, não foi dado para acabar com a corrupção, mas para mantê-la.
A moralização do país pelo PMDB, PP e PSDB, com ajuda de Paulinho da Força e outros personagens bizarros, era só um roteiro tão (in)verossímil como qualquer outro de novela de tevê.
Michel Temer no papel de moralizador é tão convincente quanto o coronel Saruê de Antônio Fagundes na novela global que dá continuidade às ficções do Jornal Nacional.
O jornal britânico “The Guardian”, mais uma vez, viu o evidente, o golpe: uma “trama maquiavélica” para derrubar o governo Dilma Rousseff: “A credibilidade do governo interino foi abalada na segunda-feira (23) quando um ministro foi forçado a se afastar em meio a revelações sobre a trama maquiavélica para levar ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.”
Diante da estupefação nacional, o juiz Sergio Moro soltou a trigésima fase da Lava Jato.
Contra José Dirceu.
Ufa!
Como diria o outro em Casablanca: “Prendam os suspeitos de sempre”.
É vício.
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