O Brasil parece não ter nascido para a democracia.
Assim como não se acostuma com a fórmula de pontos corridos no futebol.
O brasileiro acha isso tudo muito chato. O Brasil gosta de mata-mata.
Democracia e pontos corridos dão pouca emoção. É um sistema enfadonho em que o
ganhador ganha e acabou. Não faz sentido. Não tem atalho. O brasileiro adora
poder matar quem o matou. É o princípio da ressurreição ou da última chance. O
incompetente precisa ter uma possibilidade de virar o jogo mesmo que tenha sido
disparado o pior.
O derrotado nas urnas sempre quer um terceiro turno ou um impeachment
providencial mesmo que não existam razões jurídicas para tanto. No futebol, o
oitavo colocado, digamos, com 20 pontos a menos, quer ter o direito de eliminar
o primeiro em dois bons jogos lotéricos.
A democracia é tediosa. O ganhador fica quatro anos no poder. O perdedor
precisa esperar. Depois de mais de duas décadas de ditadura, elegemos um
presidente, o bizarro Fernando Collor. Tratamos de derrubá-lo para encurtar a
enormidade do seu mandato. Itamar Franco assumiu como tampão. FHC veio depois e
comprou a emenda da sua reeleição. Essa providência serviu para sacudir o tédio
democrático. A cada mandato é preciso algum tipo de golpe, branco, preto, seja
o que for. Lula empalmou o poder e podia ter caído com o mensalão. A oposição
dormiu no ponto e deixou a coisa rolar sem graça até o fim. Dilma foi inventada
por Lula e já está no segundo mandato. Ninguém aguenta mais tanta democracia.
O PSDB, furioso por ter perdido nas urnas, dá o tapa e esconde a mão:
quer o impeachment sem confessar. Nem se importa com o fato de que o poder
ficaria com o eterno PMDB.
Democracia e pontos corridos não combinam com o Brasil. É como carnaval
sem álcool. Fica difícil acontecer alguma coisa mais excitante. O brasileiro é,
antes de tudo, um golpista. Só goza no golpe. Só tem tesão no atalho. A
democracia é broxante. Entre nós tudo se repete como farsa. Paulistas querem
repetir 1932, 1954 e 1964. Ainda estamos na época de Carlos Lacerda e do
combate à ameaça comunista. A frase do momento é novinha: o petróleo é nosso.
Um lado grita genialmente: vai para Cuba. O outro rebate: vai para Miami. Não
por acaso estamos vivendo uma tentativa de golpe disfarçada de impeachment e
uma proposta de volta ao sistema mata-mata. A eleição sem golpe e os pontos
corridos são injustos, pois exageram na justiça.
Não dão espaço para a reviravolta. Matam o revanchismo.
O golpismo faz do brasileiro um forte. Se está ruim, aposta no pior. O
brasileiro só é democrata quando toma as ruas em defesa de um golpe apelidado
de impeachment. Quando o eleito pode se reeleger para um segundo mandato,
queremos que isso não seja mais possível. Quando não há reeleição, propomos que
isso seja possível. Detestamos repetir fórmula. Salvo a do caixa dois com
dinheiro ilícito. Somos todos iguais no golpismo, no mata-mata e no caixa dois.
Salvo as exceções.
Não fosse a possibilidade do golpe, o brasileiro não seria democrata.
O golpismo está em nosso DNA. Quando não tem golpe de Estado, tem golpes
de todo tipo contra o erário público.
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