TEMER DIZ QUE NOVA ELEIÇÃO É GOLPE E DESCARTA RENUNCIA CASO DILMA FIQUE
O vice-presidente Michel Temer
classifica de “golpe” qualquer medida que rompa com o previsto na Constituição
e afirma que a Carta não prevê eleições gerais. Em entrevista ao jornal “O
Estado de S. Paulo”, o peemedebista rejeita as acusações do Planalto de que
tenha “conspirado” pela queda da presidente Dilma Rousseff e diz que, “por
força do diálogo, coletivamente, tiraremos o país da crise”.
O sr. está preparado para ser presidente da República se o plenário da
Câmara e depois e Senado decidirem pelo impeachment da presidente Dilma
Rousseff?
Primeiro quero reiterar a preliminar
da sua pergunta. Evidentemente que, cautelosamente, tenho que aguardar aquilo
que a Câmara decidir e o Senado vier a decidir depois. Agora, evidentemente
que, sem ser pretensioso, mas muito modestamente, devo dizer que eu tenho uma
vida pública já com muita experiência. Se o destino me levar para essa função,
e mais uma vez eu digo que eu devo aguardar os acontecimentos, é claro que
estarei preparado porque o que pauta a minha atividade é exatamente o diálogo.
Eu sei que por força do diálogo e, portanto, coletivamente, com todos os
partidos, os vários setores da sociedade, tiraremos o país da crise.
E na hipótese contrária? O sr. está preparado para o caso de o
impeachment não passar?
A minha convivência será
constitucional, como sempre. E sendo institucional eu não tenho nada a temer,
né? Estarei tranquilo, aconteça o que acontecer.
Serão dois anos bastante atípicos na história brasileira, não?
É, mas você sabe que ao longo do
período em que fui vice-presidente, nunca tive um chamamento efetivo para participar
das questões de governo. De modo que, digamos, se nada acontecer, tudo
continuará como dantes, não é? Nada mudará (risos).
O sr. ouviu o ministro Jaques Wagner dizer que, se o impeachment não
passar, o sr. deve renunciar. Qual sua resposta a ele?
Eu respondo que (foi) o entusiasmo
momentâneo do Jaques Wagner, uma figura delicada e educada. Naturalmente há um
arroubo que muitas vezes toma conta das pessoas, por mais educadas e delicadas
que sejam.
Então, renunciar não?
Por favor, né (risadas).
Há uma romaria de políticos no Palácio do Jaburu?
Olha, muitos me procuram, você sabe
que eu mantenho uma discrição absoluta, embora seja apodado das mais variadas
denominações, como “golpista”. Eu passei praticamente três semanas em São Paulo
precisamente para que não me acusassem de nenhuma articulação. Agora,
evidentemente, num dado momento, começou uma tal, digamos assim, uma guerra
contra minha figura, no plano político e no pessoal, e eu fui obrigado a me
defender. Então o que eu faço hoje não é guerrear, é defender.
O sr. acha que essa guerra vai continuar em qualquer caso, passe ou não
o impeachment?
Não creio, não creio. Essas coisas
são passageiras. Logo as pessoas terão compreensão de tudo que é importante
para o País.
Essas pessoas que vêm aqui são de todos os partidos, do PP, PSD, PTB? O
que eles vêm fazer?
Todos os partidos, até porque eles
sabem, pela convivência de 24 anos no Parlamento, que sempre convivi
harmoniosamente com todos os partidos políticos.
No caso de o sr. tomar posse, o que dirá aos partidos políticos?
Eu prefiro não mencionar isso, porque
estaríamos todos supondo que vou tomar posse. Se você me disser: “Mas você não
precisa se preparar para uma eventualidade?”, é claro que eu tenho na minha
cabeça as questões que eu trataria, mas prefiro aguardar o evento.
Mas o sr. já distribuiu a gravação em que praticamente toma posse. O sr.
sentou na cadeira?
(Risadas) Eu não sentei na cadeira,
não. Instado por amigos meus, que me disseram: “Você precisa se preparar, não
é, por que afinal, daqui a alguns dias, se de repente acontecer alguma coisa, o
que é que você vai dizer?”. E daí, me explico mais uma vez, eu disse: “Olha, eu
vou fazer o seguinte, eu vou gravar uma coisa que, em tese, eu falarei, se, em
tese, acontecer alguma coisa, e até peço que depois nós possamos burilar essas
sentenças e essas palavras”. E fiz uma gravação, e em vez de mandar para um amigo
(risadas), equivocadamente mandei para um grupo de deputados e vazou alguma
coisa, que não tem importância nenhuma, porque o conteúdo daquilo que eu disse
eu já havia dito no passado e continuarei dizendo em qualquer momento, porque
acho que é disso que o país precisa.
Do que o país precisa?
Conciliação, pacificação, diálogo,
interação de trabalhadores e empregadores, integração de todos os setores da
nacionalidade, prestigiamento da iniciativa privada. A manutenção dos programas
sociais e sua revalorização.
O sr. teme que MST, CUT, UNE infernizem sua eventual gestão?
Não acredito, porque todos têm, certa
e seguramente, um sentimento patriótico, né? Quando vamos pregar a unidade do
país, aqueles que não quiserem a pacificação estarão contra o desejo do povo
brasileiro e tenho certeza de que essas entidades têm o mesmo desejo.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, e o senador Valdir Raupp
defenderam eleições antecipadas. Como o sr. vê isso?
Muito útil. Num Estado democrático as
pessoas têm que ter liberdade de manifestação. Eu sou contra por uma razão: sou
muito apegado ao texto constitucional. Toda vez que se quiser sair do texto
constitucional está se propondo uma ruptura com a Constituição. E toda e
qualquer ruptura com a Constituição é indesejável. A estabilidade do país e das
instituições depende do que está na Constituição e nela não há hipótese de
eleições gerais.
Eleição geral seria um golpe?
Seria algo que rompe com a
Constituição. Não gosto de usar a palavra golpe, que está muito indevidamente utilizada,
politicamente utilizada. Golpe, na verdade, é só quando se rompe com a
Constituição.
Fonte: UOL
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